sexta-feira, 30 de março de 2012

o sexo dos anjos



Desço a ladeira. Faço cara de poucos amigos para um sem número de delinquentes juvenis que andando de um lado para o outro caçam atividade e outras coisas para matar o tempo. No que alguém bobeia pode acaber morto por um deles.

No fim da ladeira , no bar sem nome, na esquina da Santo Antonio com a Luis Porrio, pareço ainda querer escutar o seu Oliveira, com voz imperativa dizer para um fulano que pisoteava outro numa madrugada também sem nome :


- Bate a cabeça dele na quina!


E a multidão esperava que isso acontecesse, e eu dei as costas pois aquilo me dizia: é hora de ir embora.


Seu Oliveira, negrão de dois metros que beijava a mão da minha mãe, que  jogava o chinelo em mim, como uma ordem para eu ir embora da padaria, nas velhas madrugadas, o seu Oliveira amigo do Gil, pai do Mário Luís.

Mário Luís, nosso amigo de infância, um grande craque,jogava o fino, cabeça erguida, ficou paralítico do lado esquerdo do corpo e aceitou aquele destino dizendo:
 
- É congênito. Ia acontecer...
 
Isso ele dizia pra nós, para mim e para o Márcio, para os outros ele dizia:
 
- É de nascença. E piscava pra gente.


No fim da ladeira, Santo Antônio com a Luis Porrio, encontro o Teacher, 10h30 e ele já está na segunda cerveja.

Ele levanta, quase nos abraçamos. Pergunta da família, eu dou minhas recomendações ao irmão dele. Na minha eterna viagem, fazendo jus ao nome, Mauricio Louco, de pronto eu falo de tudo que escapa, do que não sabemos, ele diz que já vivemos muita coisa.


Em outra madrugada,há mais de vinte anos, e foram todas as noites e muitas madrugadas, estava na outra esquina, 13 de maio com Manuel Dutra,  no bar que tinha nome, o Skina. Vejo uma barca da Civil parando, saio da roda formada na rua  e entro no bar e sento numa cadeira junto ao Teacher. O Policial entra no Skina e manda que eu saia dali pra tomar uma geral junto daqueles que eu estava. Meu estratagema não havia funcionado.


O Teacher é quase um santo, pouco fala, está sempre disposto a ajudar todo mundo. Pergunto finalmente:


-Cadê todo mundo?


Ele também não vê mais ninguém na rua.


Quase o abraço e me despeço.

Do outro lado da rua, na Santo Antonio, está sentado  no banquinho de estar, perto da portinha da loja do Jogo do Bicho, Zé Luis, um vizinho do Mantiqueira conhecido há mais de trinta anos.O cumprimento de longe, efusivamente. Tenho sempre que cumprimentá-lo, há anos ele reclamou com o Márcio que eu não o cumprimentava, agora toda vez  que o vejo,cumprimento. Como diria meu avô Tonico:


-Precisão!


Hoje faz trinta anos que conheci o Paulo de Tarso, o meu grande amigo. É dificil saber quando conhecemos alguém, é dificil reconhecer um grande amigo. Sei que conheci o Paulo nessa data porque nos conhecemos no dia de um jogo do Brasil.O estadio inteiro gritando: Tcheca, Tcheca!

Fomos juntos ao estádio, éramos, somos, temos, um amigo em comum, e incomum também,o Landinho. O Landinho chamava o Paulo de Paulo Louco, e meu apelido era Mauricio Louco; o caminho natural foi que os loucos se encontrassem.


Desço a ladeira para ir a ACM.


A primeira vez que saímos,eu e o Paulo, isso alguns dias depois de ir ao estádio, fomos, Paulo e eu, á ACM. Fomos jogar bilhar. Eu sou péssimo em bilhar. Jogamos contra uns caras lá na ACM, eu me esforçando ao máximo, Paulo encaçapando as bolas, eu tentando defender. Jogo parelho, na última jogada, Paulo tem uma bola fácil, na reta e dá um porradão, a bola espirra, os adversários ganham. Ele, já na rua,  diz pra mim:


-Esses caras são uns merdas.

Agora estou indo á ACM, vou fazer ginástica, andar na esteira. Não tenho nada para falar a ninguém ali, nem cumprimento ninguém.


Instigado por um amigo da Federal do Ceará escrevo esse texto sobre "Amizade Masculina". Penso imediatamente em sexo dos anjos, no senso comum. E em Cícero. 


Para o senso comum "Amizade Masculina" é redundância; amizade feminina é quase oxímoro. Amizade entre homem e mulher não é normal. 

Senso comum é uma coisa em que eu chafurdo, mas é a lama, é a lama; senso comum é o reino de várias coisas erradas e indicativo de comportamentos imbecis e repletos de premissas erradas.

Eu penso que pode tudo, eu penso que existe gente adulta, madura, suficientemente evoluída, não centradas na relação ânus e pênis, vagina e vagina ou vagina e pênis.Daí o sexo dos anjos.

A questão de genêro, é disso que se trata. Dos papeis que desempenhamos.

Eu penso no que os homens fazem juntos: discutem, brigam, bebem, jogam, criam laços, criam inimizades.

O mundo masculino das discussões filosóficas, das guerras.
Dos jogos, simulações de guerras.

Dos apertos de mãos, das caras feias,dos acenos aos amigos, dos quase abraços.

Da cumplicidade, da ferocidade.

Das relações entre pais e filhos.

De tudo que escapa, das coisas que não sabemos, das coisas que não ousamos poder falar, das questões de genêro, de  quem somos e o que somos. Do que pensamos.

Daquilo que se espera de um homem, do comportamento de um homem. A questão é, também, o que é amizade?

A amizade, segundo Cícero,  é " o maior legado que os deuses deixaram aos homens, depois da sabedoria"; a amizade se faz acompanhar da benevolência, do afeto, da reciprocidade.

Cícero é um dos grandes. Faz parte do legado de Roma, escreveu tratados sobre diversos assuntos, entre eles o da amizade.

Interessante para mim é o fato de , ao pensar em amizade, venha-me a lembrança de que Cícero tenha escrito sobre o assunto. Consulto  a googlelândia, e leio por cima, em algum resumo de um resumo, o quê Cícero escreveu.
Gosto quando ele fala que a amizade é o terreno  do afeto mútuo,do despreendimento, do respeito, do vínculo que a amizade tem como o amor.

Sobre os sentimentos, sobre a proximidade, a relação entre amor e a amizade, algum grego escreveu, disso todos temos certeza.E deve ter escrito sobre uma hierarquia dos sentimentos.Sobre uma hierarquia amorosa. O amor maternal, o amor fraternal, o amor romântico, o amor platônico, o amor erótico.

Não concordo com isso, que haja uma hierarquia no amor. Tendo a valorizar a relaçaõ homem e mulher como a mais poderosa, a mais violenta, a mais forte. Mas amor é amor.

Mas é preciso colocar uma ordem nesse texto.

Essa volta, essa descida da ladeira, "enquanto eu ando eu penso", (e enviei hoje  para um amigo um texto do Thoreau sobre andar e pensar) nesse caminho percorrido entre  a ladeira da preguiça e quase chegando a ladeira da Memória, eu penso no caminho percorrido, nessa hierarquia entre quem é amigo, e quem não é, e na relação amorosa, de amizade, que se estabelece entre os homens.

E na hierarquia impossível da relação amorosa.


"Sexo dos anjos é uma referência a debates teológicos que ocorriam em Constantinopla inclusive nos momentos que precederam a sua queda diante dos turcos otomanos"

quinta-feira, 29 de março de 2012

a beleza é efêmera

Ela passou por mim numa tarde dessas no metrô, mas ela existe.

Por esses dias num conflito entre o que dar de presente, sugeri rosas.

- Mas elas morrem!

Penso em Heráclito, penso nas rosas que tu pisastes distraída, penso na canção assobiada que não era minha, penso na onda do mar que levou o amor do Chico, penso nos amores que não ficam, e em tudo que passa, mas a beleza definitivamente fica.

geleia light não tá com nada

Não é a falta de gosto, ou um novo gosto que eu não gosto. É sobre a negação, uma contradição escrita no corpo do produto, que deixa um retrogosto amargo além de tudo e ademais, e enfim é sobre mudança de comportamento induzido por falsidade ideológica, pelo 171 que é a propaganda aliada ás grandes corporações e ao agronegócio, que evidentemente promove o fim de um mundo que era nosso e cuja volta, eu aprendo todo dia na escola com a juventude fascinada por novos produtos e novos gostos ,não tem possibilidade de acontecer.Não há para onde voltar.

Sobre a criação de gosto, criação de frankensteins vendidos em supermercados, sobre o desgosto de não existir vida saudável como no tempo da vovó que eu ouso querer estar a falar.

A caracterização fisíco-quimíca, microbiológica do produto me desinteressa; a apropriação do "light' junto ao produto, é o caminho.A palavra é o caminho, para um raciocínio.

Mais uma vez:

- A luz que alumia, a palavra light, é usada indevidamente pelas equipes produtoras de desejos falsificados, esperanças nunca alcançadas de sabor e redução dos níveis de colesterol ou diabetes para a venda, comércio e adicção, é sobre isso que estou eu pretendendo estar a falar.

O vocábulo light emprestado  da língua, ora usada como veicular ,talvez seja usado no sentido de 'livre", mas não carece pesquisa para tal afirmação. O light entra na cabeça com um flash, um raio, um zás- trás, indicativo de corte, um recorte semântico utilizado para indução de consumo.

Desejo difundido oculto nessa escrita  é  promover um break,um breque,um zás trás, uma luz, um recorte semântico outro,cuja a ideia fundamental  está contida no refrão de  uma daquelas canções dos anos 80  que eu não sei o nome, nem a banda que toca, que me desentocava e me fazia delirar:

"MONEY OR HONEY".

Estamos perdidos na fragmentação cada vez mais constante do texto que continuamente é escrito, e reescrito por todos, e pela leitura de rótulos que fazem as rótulas  moverem-se em rodopios de gozo substituidores de orgasmos reais, aqueles que nos aproximam das constelações sem nome de onde viemos e retornaremos - não como quem volta á um supermercado em busca de produtos redutores e etc., mas como quem chega num seu lugar, onde sem saber que lá já esteve, sente-se confortável como se houvesse amor á primeira vista, ou como desorientado pelo reconhecimento de sabores nunca provados, disesse:

- Eu gosto disso!

Nesse universo fragmentado  a busca de sentido faz muitos desistirem, ou tornarem-se adictos,  de grandes bobagens como a geléia light e outros fenômenos ou coisas dispostas em imensas prateleiras, vitrines ou plataformas virtuais,  e  dessa forma abandonar o gozo supremo de lamber os beiços pela geléia da vovó, que não é substituidor de orgasmos reais que nos levarão a constelações de onde viemos e retornaremos, mas todavia, é realmente um prazer lambuzar os beiços com geléias de verdade.

Nada substitui,porém as coisas que desconhecemos, ou inventamos, ou, ou, coisas como o "rosebud', como a 'madeleine", nada substitui a lembrança do gosto da geléia da vovó, que ora, ora, noves fora, jamais provei.

terça-feira, 27 de março de 2012

uma coisinha pra dizer pro cara


                                                                                              foto: paulo de tarso gracia



ocaso, acaso, asco, saco
destino sentido instestino
por uma ordem nisso tudo
desfiar um rosário
encontrar o cara
como se fosse reencontra-lo
pedir para recontar a história
dessa vez
como se não fosse um lance de dados
como se não fosse um universo mágico
como se não fosse uma peça de teatro
nesse novo passo
sem mais embaraços
dizer
deu tudo errado
melhor fazer de novo
é o que eu acho
a imensidão de seu sorriso
esse jeito de se dar bem devagar
o teu pensamento que volta
siderizou-me
e o que era silêncio
foi-se como num suspiro desaflito

sexta-feira, 23 de março de 2012


reforçando laços
fazemos nós
novo jeito de desamarrar
a vida

dismasquarade

vivendo á toa, mas ocupado
de uma conversa desconexa, no entanto conectado
via papo cabeça,sempre desorientado
um pouco estúpido é o que eu acho, espero contato
muito prazer, obrigado


bate as asas colibri
a pena que escreve
queria contigo ir

leveza

nem pena, nem penar
nem sofrimento
nem pesar

se


se
é quase um she
se
if you love somebody
se
em si sol fa mi
se
ne qua non parti
se
a melhor parte de mim
se
em parte de ti
se
houvesse outra chance
se
c'est la saison fini
se
não existisse se
se
cê soubesse de mim
se
tu estivesses aqui

quinta-feira, 22 de março de 2012

eu digo




Nas madrugadas nossos sonhos são confundidos, nosso sono é perturbado pela lembrança de um terabyte de memória indevidamente processada. Essa é uma parte da questão.
Uma geração inteira está incorporando próteses, partes biônicas. Uma nova corporalidade já está aí, vindo a reboque da cultura da aparência. Essa é uma parte da questão.
O fosso do abismo entre o iluminismo esclarecido e o povo aumenta em razão exponencial, não existe missão,não se chegou á síntese nenhuma.Essa é uma parte da questão.
A barbárie não espera a barba crescer, cercados nem todos podem comprar um imóvel em Miami. Essa é uma parte da questão. Essa é uma parte da questão.

Eu digo sonhos lúcidos, eu digo esticar a vista, esticar as pernas, esticar a vida, eu digo abismo de rosas, eu digo confusão, fusion, espiritualismo material, eu leio Hegel enquanto doo sangue, eu digo:

- Não pise nessa flor.
o anjo de pedra,testemunha muda da passagem do tempo, lacrimeja, desacorda, impassível desespera.
a flor caída no chão espera que desvies, mas tu caminhas distraida.

duas palavras

entre
a memória e o torpor
saí

brevidade da vida

sobre essa cavalgadura mística
sobre a imprecisão dessa imagem holística
sobre a lenha dura dessa linha fina
sobre a validade da renda mínima
sobre a música eletrônica despossuida da matéria vida
sobre o céu azul a gente caminha
sobre essa sintaxe apropriada como se fosse minha

reina absoluta uma flor disposta em moldura feita de ruína

UMA  MINHA TEORIA DA ROSA

sua fragilidade e beleza mesmo depois de morta
a delicadeza do seu momento em vida
a oposição de sua maciez á rugosidade do solo
os passos daqueles que dela desvia
o vento que a trouxe
o alimento da abelhinha
a fina flor da boêmia
a vagabunda flor que eu não guardei o nome
ao Rosa no meio do redemuinho
a rosa que minha mãe cantou
a rosa que eu sonhei que fosse minha
a rosa que nasceu no asfalto 
a rosa e a rosa
a rosa fossilizada prova de sua existência quaternária
o mercado das flores
o passeio em Holambra
a rosa negra a rosa mística a flor de lis a rosacruz
as cores todas da rosa
o cultivo da rosa nos trópicos
a greve da rosa
a rosa que está em todo lugar basta procurar
a rosa do pixinguinha, vinicius e do baobá
a rosa que é
a rosa que está
a rosa do deserto
as flores de maio
as quaresmeiras
a  falsa murta
a singeleza das margaridas
as flores do campo que não conhecem a dor
toda a lembrança que a flor me traz
sobre tudo reina a flor caída no chão
e o esforço delicado de fitá-la e entender que mesmo morta ela é viva
que existe a possibilidade do encontro com o belo na mais suja avenida
e que sempre há uma flor no meio do caminho















quarta-feira, 21 de março de 2012

elas

a aranha como que flutua,andando na parede
a mulher como que passeia, fazendo uma teia
a rosa como que resiste, embelezando o chão da rua

meu Itamar Assumpção

antipop popular biscoito fino
massa paulistana
fino paladar

e vem de todo lugar
a esperança
do porto do rio de londrina
das minas e manos
de onde for buscar

tempero africano
fruto do baobá
memória e torpor
cair e levantar

mel amargo
contradição invulgar
erudito de repente rap
musica pra pensar

naquele domingo
dia de feira
oxímoro
aproximo meu peito
sempre a gente vai se achar



caminho dos baobás

entre
duas palavras
memória e torpor
eu passeio

terça-feira, 20 de março de 2012

cadernos de gramática # 6

tu que pensas
tu que sonhas
tu que almejas
tu que queres
tu que esperas
 - enquanto isso a vida acontece

segunda-feira, 19 de março de 2012

19 de março dia de são José


Dia de são José, santo especial de minha devoção.



Minha saudação ás pessoas mais velhas, meu tributo a quem possui mais experiência.

encontro com famosos # 5 Aziz Ab'Saber

O nome diz muito.Traz o nome Saber de família.

Intelectual integro, uma combinação dificil de existir.

Um Homem simples, educado e bonito.

Tenho 4 livros dele e são extraordinários.

Cunhou a expressão "mares de morros", poesia na ciência, outra coisa dificil de existir.

O Professor faleceu dia 16/3, e isso me deixou, me levou, me trouxe.

Tem muitas coisas que eu não consigo escrever, o que é óbvio, mas é preciso a mea culpa. O professor era uma dessas gentes dificeis de  existir, mas fáceis de encontrar: a  porta da sala dele na faculdade estava sempre aberta.

Troquei duas palavras com ele, nada sobre a ciência, nem mesmo a poesia. Foram palavras de gentileza, amistosas. Uma vez na missa de sétimo dia da Vovó Zizita na Igreja do Carmo. Ele estava lá em respeito a alguém da família dele.Outra vez na lanchonete da Faculdade de Geografia, eu quis ceder meu lugar a ele na fila, mas ele não aceitou.

Se tem um lugar que a gente pode conhecer uma pessoa é numa fila. Não porque demore e dê tempo de conversar, mas respeito, serenidade, gentileza.

Conhecer um intelectual de primeira grandeza, que mantem a humildade mesmo sendo referência mundial, ainda mais no mundinho da USP...

O Aziz é gente.

Tem muitas coisas que eu não sei dizer, óbvio, mas eu faço a mea culpa, mas naqueles dias , tanto na Igreja quanto na Faculdade , eu disse:

- Obrigado, Professor.

sincretismo

O sincretismo é algo maior que camuflagem, meio de sobrevivência de cultos proibidos.

Sincretismo é a prova da manifestação espiritual-religiosa em culturas diversas, em diferentes tempo-espaço.

Em outra dimensão, que alguns visitam em sonhos, em estados alterados, através da meditação, da contemplação, existe.

Existe.É.


Salve são José, salve Xangô Aganju,Thor,Hórus, são Jerônimo,Agni, Shiva, Thot. Salve Saint Germain.


Caminha, voa,mergulha, ultrapassa nosso entendimento, e traz entendimento.

domingo, 18 de março de 2012

encontro com famosos # 4 Denise Fraga

Em 1996 morei quase cinco meses em Porto Alegre. Nem de longe foi um mar de rosas.

Muita solidão, caminhadas  kilometricas desde o Morro da TV até o Beira Rio,o Menino Deus,a avenida Ganzo, a Casa de Cultura Mário Quintana.

Lugares lindos, mas para mim um deserto.

Num fim de tarde de mais um dia qualquer estava na Casa do Mário Quintana. Fui ver o por do Sol no Guaíba.Subi na cobertura e  Denise Fraga estava lá. Somente nós dois , eu e ela, encostados na murada reverenciando a beleza da vida.Ficamos quietos.

Eu fiquei olhando além do rio, do sol e de tudo que estava acontecendo perto de mim.

O por do Sol vai transformando todas as coisas, os objetos vão mudando de cor, o céu se transforma em outro céu, chega uma estrela,e muitas mais outras. Mais uma nova esperança.

E eu estava mudo, esperando a mudança de tudo, que finalmente chegou, como uma luz que se apaga, e vem a noite, e aparece uma estrela, e assim, amanhã será outro dia. E foi.

Uma semana depois eu estava de novo em casa, na Bela Vista, onde arriei a mala, deixei um saco pesado em qualquer lugar e voltei a vida.

quarta-feira, 14 de março de 2012

aquele cãozinho



Aquele cãozinho.
De olhar triste e desamparado, seguiu-nos por quatro quadras, descendo e subindo o vale da Saracura. Nos acompanhou até a porta de casa.
Provavelmente machucado, estava sujo e descarnado,mas sorria.
Estava dormindo quando o enxergamos. Quando nós passamos ele levantou e veio atrás da gente. Plec, plec, as patinhas nós ouvíamos, naquela noite linda, em que a brisa soprava, fazia calor e havia estrelas no céu.
Saímos da faculdade, Mãe África o curso que fazíamos, e estávamos com a cabeça cheia de boas ideias, nos amando cada vez mais, em profunda reverência mútua, às pessoas, a memória e ao futuro, e as pessoas nas ruas Augusta, Paim e Treze de Maio estavam se divertindo, bebendo e cantando.
Chegamos em casa fechamos a porta, o cachorrinho nos olhou pela última vez, nós choramos e nunca mais aquele cãozinho nos deixou.

quinta-feira, 8 de março de 2012

vale a pena

nessa estrada (que ao final  vai dar em nada)
vale o abraço, andar de mão nada, dar risada, não precisar dizer nada
vale o amor

dois

enquanto esperamos
novamente mais amor
lemos rimos sonhamos


estamos sempre fazendo amor
em cada gesto
quando estamosjuntos


cadernos de gramática # 4

completamo-nos amando-nos entre enclises, elipses e outras várias dificuldades, típicas de quem pisa nas nuvens embora em terra aconteça pisões de pé, mas tambem moonlight seranade, maresias, vento nas velas, sussurros no ouvido, e assim  os corpos se entendem, as linguas se enrolam, a gente dança e fica combinado que é melhor não perder tempo com palavras (beijo longo sem pressa de terminar)

não deixem para amanhã

"esses moços pobres moços"

quando for de verdade digam : te amo

andando

quando o homem chegar ao seu lado ele terá chegado a um lugar

esfinge

decida-se e eu devoro-te

terça-feira, 6 de março de 2012

ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh