domingo, 29 de dezembro de 2013

baires # 1



en baires embriaco de una pasion luminosa. sin ninguna explicacion necesaria, o possible, so la luz , y su sombra a inebriar-me

podíamos



podíamos estar roubando, matando, mas estamos pedindo atenção.
e um gole de cerveja, e mais um trago.
e alguém para enrolar o cabelo com os dedos, andar de mãos dadas.

podíamos, glória suprema, tirar uma soneca na porta da fábrica, enquanto os outros nos guardam.
podíamos estar causando, rindo, mas estamos na velha correria.
debatendo, pegando a mesma estrada, " um pequeno pedaço do céu", as estrelas mortas ainda brilhando
podíamos estar lendo os russos, sentir a velha febre, mas estamos nos distraindo.
ninguém se engana por muito tempo, o coronel está por aí, pronto pra te acusar.
podíamos estar sonhando, mas estamos na espera de um sorriso.
e o ano novo que não chega...
podíamos, não é, podíamos

textamento # 2



afastado do xamanismo, mas só tá morto que não sonha.

textamento





nada do que faço tem valor comercial

qualquer linha e traço pode ser copiado, alterado, diminuído ou aumentado. 
Minha ambição é que algum texto sirva para fazer média com o dono do mercado, segure uma nota numa escola, roube um beijo de alguma namorada.

nada do que curto está a venda,
flores jogadas no cimento, um cego tateando o vento, conversas de surdos, a prata banhando o corpo de minha negra, ralar o joelho em escaladas para chegar no alto das montanhas e dizer: ahhhhh.

nada do que penso faz sentido,
consciência cósmica e inconsciência de classe
inconsciência cósmica e consciência de classe
inexatamente em vós passeio

nada do digo pode ser escrito,
vale o escrito, que pode  pode ser copiado, alterado, diminuído ou aumentado. No entanto se qualquer empresa auferir  lucro com um asterisco sequer, será processada na forma da lei.

nada, nada, nada

só as forças naturais
só os mistérios
só a soul music
só os gestos de carinho
só o último banco de praça
só você que agora me abraça

sem essa aranha



tudo muda e
tudo fica
alguém sempre explica
o que não precisa

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

o predio da frente # 1



essas 3 pessoas peladas, em janelas diferentes, no prédio 200 metros á frente, não estão nem ai pra mim.
empate.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

a vida não cabe no bolso # 403



não acredito em nada
eu tenho é fé.

metanoia




metanoia, aqui vamos nós.
temos que ir
ah, se temos

o sol




o que significa esse sol no fim de tarde?
e essa fome?
e esse beijo, que não conheço?
e o medo, o medo, o medo?


significa fugir do gueto
significa eu não te ouço, apenas te vejo.
significa que te vejo, mas não sei o endereço
só o medo, só o medo

circunstâncias # 1



- as circunstâncias são essas.
- já eram as circunstâncias.

lutar contra o luto



via de regra 
sairei perdendo

negra é minha tarde
em minha mãos 
meu grito parece surdo
mas eu canto

a vida não cabe no bolso # 402



improvável é a felicidade
quem provou que o diga

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

a vida não cabe no bolso # 401



amanhã será igual a hoje, basta você querer.

porque



porque eu não sei dizer isso
não significa que eu não saiba dizer isso

porque eu não consigo falar isso
não significa que eu não consiga falar isso

porque eu não falo isso
não significa que você  deixe de escutar isso


pera asiática



A gente ia ao Zoológico uma vez por mês. Eu tinha dificuldade de gostar mais de um bicho, de ter que escolher um para gostar mais. a Má gostava do urso, o Marcio do leão. Eu gostava do espaço das cobras, e do espaço das formigas, mas era mais pelo espaço. Hoje eu gosto mais de lobos, mas os lobos não podem viver sozinhos, e eu disse lobos!
Acho difícil escolher um fruta da qual eu gosto mais. Mas comendo essa pera asiática, acho que fica difícil não dizer que ela é minha favorita.

domingo, 22 de dezembro de 2013

ponto de apoio



sustenta-se 
indefinidamente
embora não se saiba onde
embora enxergue-se o fim

sustenta-se
indevidamente
pois flutua
flutua, diz-se, no céu que não tem mais fim

sustenta-se 
finalmente
pois embora nada dure eternamente
meu olho me engana
comumente
como me engana

ah o mundo



aqui e ali
um risco
tudo por um triz
e o mundo,
ah o mundo,

o mundo a correr de mim

no céu bem alto




começar pelo começo
levantar com o pé direito
e numa volta consigo mesmo
redescobrir o valor das coisas que não tem preço
um pipa voando alto no céu
furando as nuvens sem pressa
como que dizendo:
- felicidade eu te mereço

sábado, 21 de dezembro de 2013

Essa vocação do brasileiro pra fila.




Essa vocação do brasileiro para pedir coisas.
Essa vocação do brasileiro para furar filas.
Essa vocação do brasileiro para sempre entrar em contradição, não saber se vai ou se fica, se sim ou não.
A vocação do brasileiro em permanecer onde está, em reclamar de tudo,.
A vocação do brasileiro em puxar papo, conversa fiada, sem conflito enriquecedor para nenhum lado. Isso tudo numa fila.
A metáfora da fila.
Essa vocação do brasileiro para, numa fila, falar alto intimidades, e a vocação nas filas, a vocação para a bisbilhotice.
A vocação brasileira para ficar atrás dos outros.
A vocação brasileira da fila,o viés burocrático,a ordem e a desordem, transgredir sem transgredir nada.
É a nossa cachorrada.
Nossa falsa peraltice, nosso passo em falso de mãos dadas.
Essa vocação do brasileiro é seguir para o matadouro, sorrindo e :
- Alegria, alegria, sorrindo!.
A vocação do brasileiro é permanecer na fila do desespero e da alegria:
- No segundo andar tão dando leite...
Essa é a vocação do brasileiro entrar em fila, viver na espera.o brasileiro entrar em fila,
viver na espera.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

olharei o mar



olharei o mar
paisagem que muda
fala tanto a mim

olharei o mar
antes que tudo
seja o fim

olharei o mar
até que sua palavra
seja sim

domingo, 8 de dezembro de 2013

bam!



O gato olhava pra mim, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam!  batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. 
Terminei o cigarro, apaguei e saí para tomar uma cerveja, que ali  dentro estava quente.

jardim patente 5029 # 36

virou a esquina em alta velocidade, tem que ser assim, se não morre.
prudente o rapaz esperava com a bicicleta parada que o ônibus passasse. o menino, porém, ainda não conhece a prudência e descia à toda velocidade.
quando ele viu o que ia acontecer, fechou os olhos. eu tampei os ouvidos com as duas mãos.

jardim patente 5029 # 35

o cabelo descia, escorrendo, repuxado, molhado. a camisa estava grudada nas costas. uma mancha de óleo se instalava, crescendo.
mancha assim não sai nem fudendo.

jardim patente 5029 # 34

o cachorro estava deitado de lado, com o bucho cheio, as pernas duras, esticadas. o olhar fixo, parado, olhando a parede.
o velho arrastou ele e pôs em outro lado. era melhor que o menino não visse aquilo quando acordasse.

jardim patente 5029 # 33

de manhã o piso frio amanhece molhado, fosse de vidro ficaria embaçado.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ah, Mauricio


encarcerado à beira de um precipício
eu estava
não volto mais lá não, não volto!



Lu
perto de você, longe da sarjeta.

não sou mais um pedaço de mim



hoje não estou tateando muros
não sei de nada, mas
não me escondo em buracos
nem sou mais um pedaço de mim.

hoje não procuro alívio
em coisas baratas
e não procuro apoio na vulgaridade
não sou mais um pedaço de mim

hoje 
o principio de todas as coisas 
o inicio da grande jornada
o fim do dia anuncia a madrugada
depois da noite escura, sem nada

não sou mais um pedaço de mim
e estou pelo fio de uma espada
dirigida por mim

Te amarei



Te amarei
ainda que resistas

a deixar-me te a amar
Te amarei
ainda que desistas de respirar
Te marei
custe o que custar
Te amarei
mesmo que desacredites
em tudo que acabei de falar

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Ninguem diz que eu sou italiano, mas eu sou um pouquinho.


Meu bisavô Francisco Mele nasceu em Monte de San Giacomo, província de Salerno, na Campania, Itália, em sete de dezembro de 1867. Era filho de Gaetano Miele e Teresina Marone. Ele ficou orfão com sete anos.
Veio ao Brasil com minha bisavó,obviamente de navio, no mesmo navio que Francisco Matarazzo, e minha bisavó era um das centenas de viúvas que recebiam uma mesada do Chico Matarazzo. Minha bisavó  ficou conhecida como a Vovó do Brás. 
Os irmãos do meu bisavô, Paschoal e Vicente tinham vindo antes, estavam estabelecidos na rua Santa Rosa, próxima do que hoje é o Mercado Central, já naquela época uma rua de comércio de grãos e comidas deliciosas.
Meu bisavô tornou-se alfaiate, tinha uma porta na rua Quintino Bocaiúva. O Chico Miele teve muitas mulheres, mais de sete, e eu tenho um monte de primos que não conheço. Meu pai fala dum primo dele, o Zezinho, que era filho da dona Margarida, a derradeira mulher do velho Chico.
Os Miele moravam na rua Doutor Clementino, esquina com a Celso Garcia, e tinham um sítio no Tucuruvi. Fotos desse sítio, com todo mundo, ainda existem. Eu tenho algumas.Nelas aparece meu tio Dino, neto do Chico. O Dino era um homem lindo.
O pai do Dino, era o Caetano Miele, um puta homem, um gigante. Meu avô era comunista.
É nome de escola, do grupo lá de Cangaíba. Foi jornalista do Estadão, responsável pelo seção interior por décadas. Foi diretor do primeiro grupo escolar de Itaquaquecetuba e também diretor em Mogi das Cruzes. Foi diretor do grupo escolar Rangel Pestana em Amparo. 
Em Amparo ele conheceu a Dina Bueno, e apaixonou-se pela caboclinha linda. Quando a minha vó Dina morreu ele definhou e morreu menos de um ano depois.
O Caetano Miele não gostava desses negócios de Itália, gostava era de cachaça e foi um grande entusiasta do São Paulo Futebol Clube, quando alguém perguntava por quê? ele respondia: " Somos brasileiros!". 
Eu por minha vez, toda vez que posso assisto o Miss Itália, o Festival de San Remo, e choro ouvindo musica italiana

Ninguem diz que eu sou italiano, mas eu sou um pouquinho

Ninguém diz que eu sou português, mas eu sou um pouquinho.

Meu bisavô Joaquim Loureiro nasceu por volta de 1840, aos pés de Braga. Não sabemos ao certo a cidade, ou aldeia. 
Ficou órfão de pai aos treze anos e embarcou num navio para o Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro e ali labutou por cerca de dez anos. Um patrício o convidou a trabalhar numa fazenda de café em Rio Claro, estado do Rio de Janeiro, próximo a Angra dos Reis.
Quis casar com a filha do dono da fazenda, Ernesta Pereira, mas Quincas era pobre. O casamento não foi autorizado.
Quincas e Netinha fugiram uma noite para um quilombo e lá tiveram sua primeira noite de amor. Mas o fazendeiro, pai da minha bisavó, não daria sossego a eles e eles não poderiam  ficar no quilombo. Tiveram que fugir e assim fizeram.
Junto com eles estava Tiana, que serviu de pombo correio na fase do namoro, era negra Mina, negra de casa. Fugiram margeando a estrada de ferro. 
Numa viagem de meses chegaram a Amparo, porque o nome era bonito.
Lá compraram um chácara nos arredores da cidade e tiveram sete filhos. A minha avó, Ernestina era um deles.
Esses filhos tinham um regional. Minha vó tocava bandolim, meu tio Irineu pandeiro, meu tio Benedito violão e minha tia Marcília cantava.
Minha mãe, a Consuelo Loureiro Bueno, filha da Ernestina, não nasceu de olhos verdes. Todos os os filhos do Loureiro tinham os olhos verdes.
Minha mãe adorava ser descendente de portugueses.

Ninguém diz que eu sou português, mas eu sou um pouquinho.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

a vida não cabe no bolso # 388

uma mulher música é uma música

dia do músico






Feliz dia do músico, Marcio Miele.

meu irmão é músico, nasceu artista.

é um malandro, o que pra mim ainda é mais importante que qualquer coisa, mas ele trabalha demais, sempre trabalhou, trabalha desde os dez anos, mas aí eu já estou me distraindo... Bom eu conheci ele no topo de uma árvore, num sonho, então...

meu irmão é músico, nasceu artista., um dia o marcião chegou com o Clair de Lune, noutro dia o Bach, e cada vez foi chegando com mais coisas. Arroz Integral, uns chás cada vez mais fortes, Krishnamurti, Mauri Noronha, um mundo de coisas.
essa versão do Laurindo é a coisa mais malandra, mais artista, mais brasileira, mais marciomiele, que eu vi desde que eu via láctea pela última vez.

MINHA rua, a 13 de maio

Desço a rua da minha casa. É a MINHA rua, a 13 de maio. Um jovenzinho me diz:
- Senhor, não vá por aí porque tem um monte de gente fumando maconha.
Minha cara já me livrou de muita coisa.

disco riscado

o fim da boêmia
cristal partido
milionésima vez no paraíso
andar em frente.

olhar com olhos de se me quer
e pousar no ar.

dessas coisas que já não estão
não procuro mais
o lado bom daquele disco
e inventar coisas,
sofrer sem motivo.

multiplicidade:
as ruas estão cheias de gente convicta
se divertindo
estou sem meus sunglasses
sem graça
tempo obscuro
assim fica difícil
consultar no copo de vidro
entender o passado.

daquele disco riscado
ficou o grito.

puta tarde linda Belo


a vida não cabe no bolso # 387



acenderam as luzes da cidade e bateu um puta medo das coisas ficarem como sempre

onde estou ninguém pode estar



onde estou ninguém pode estar,
é o meu lugar.
embora você ouça o meu silêncio
você não sabe o que ele diz:
- eu queria que você estivesse aqui

no lugar onde eu estou
eu deixei de acreditar em milagres
aqui eu não posso crer em salvação
eu sei que você pode me ouvir:
- tudo que eu queria é que você estivesse aqui

as coisas não vão bem comigo
tudo está do jeito que era de se esperar
mais que tudo eu ficar a esperar
você percebe:
- tudo que eu queria é que você estivesse aqui

por isso eu fico em silêncio
embora você me ouça, atente, perceba, sinta, etc.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

lua quase lua




lua quase lua
você não mais me procura
o que de fato não importa
mas ficou bonito á beça.

esse instante
lua quase lua
a fortuna da experiência estética
é uma estrela invulgar
assim falou Lukács

lua quase lua
que você não cresça
que eu não te veja mais
lua quase lua
estrela invulgar

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

meu



eu estou ali
em tudo que eu tenho
eu estou aqui
em tudo que eu sonho
entre o que eu tenho 
e o que sonho
meu abismo

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

o mundo que a gente sempre quis, solano trindade




ao maior poeta de todos,Solano Trindade,
meu irmão




o amanhã vai chegar, um dia
,.
não estaremos mais aqui, mas

nós o merecemos e ele vai vir.

nesse dia, meu amigo,

estaremos sorrindo

como você , e eu, sempre quisemos.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

ciclo


o céu azul
sobre ele
nenhuma palavra

algumas nuvens
pequenas manchas esgarçadas
sobre as nuvens
nenhuma palavra

vem a chuva
molha as plantas
crescem as plantas
tão diferentes entre elas
nenhuma palavra

vem os bichos
comem as plantas
alguns crescem
outros morrem, adoecem,
mas não se come bicho que não morreu de morte matada
sobre isso
nenhuma palavra

uma tarde incomensuravelmente bela

vem o homem
suja o céu
destrói a nuvem
corta planta
mata o bicho

eu não consigo dizer nada

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

de repente surgiram flores



de repente surgiram flores
esse tempo, enorme, muito tempo, que a árvore foi um esqueleto, firme, mas sem força ou graça e
de repente surgiram flores
de onde eu estava o que se via era a palidez impressionante da beleza sem vida, da ausência de cor e sabiá e
de repente surgiram flores
nada como a surpresa do náufrago ao avistar e
de repente surgiram flores
como a canção ouvida da boca faminta e
de repente surgiram flores e
ouvi a verdade da boca da cigana e
de repente surgiram flores
nada como um peixe que sem saber, nada.

de repente surgiram flores
e no mais a saudade não aumenta.

de repente surgiram flores
e tudo que eu quero é voltar pra cima.

de repente surgiram flores e
eu pianinho na madrugada.

de repente surgiram flores
ouvi os passos pela janela entreaberta
mas não era ela, não é ela, nunca foi ela.

de repente surgiram flores 
e, e, e
o mesmo banco imundo
os mesmos bêbados no boteco estraçalhado
a mesma espera inútil
a mesma tarde sem graça
sempre o eco dos gritos das crianças alienadas
a repetição monótona de tudo
a falta de razão
o amor adormecido
o coração embotado
a face amarrada
a ausência de tato
os olhos grandes cansados, mas
de repente surgiram flores
e a árvore cansada
trará,
afinal que importa o futuro?

de repente surgiram flores
e no mais, Hindi Zara.

de repente surgiram flores
estão todos voltados para elas, mesmo que não as vejam, mesmo que não saibam delas.

de repente surgiram flores e
a vida segue mesmo contra a vontade dos insanos.

de repente surgiram flores
e no mais é quase tudo
que irrompe e, 
trágica esperança
 - são somente flores meu camarada,mas escorre uma lágrima.

de repente surgiram flores
e no mais é quase nada.

de repente surgiram flores
maldita esperança que me arrasa.




domingo, 3 de novembro de 2013

três ou quatro coisas que eu estou quase certo # 3

eu não estou longe nem perto nem no intermédio
conheço pouca gente pra conversar a sério
ontem nunca será melhor que hoje
tudo acontece de onde eu menos espero

três ou quatro coisas que eu estou quase certo # 1

psicologia barata
misticismo enganoso
filosofia de boteco
não é isso quye eu quero
na poesia está a chave do mistério




sábado, 26 de outubro de 2013

Belchior # aniversariante do dia.



1978
O time do Mantiqueira ia jogar bola na Praça Roosevelt.
Micali, os irmãos Eduardo e Fábio, Paulinho e Márcio, Marcelo Pereira, Edgar, Renato, Marquinhos e eu. A Raça toda.
Eduardo pergunta para mim se eu já conhecia a nova música de Belchior, aquela que falava da angústia do goleiro na hora do gol.
13 anos eu tinha.
Íamos perder mais um jogo. Mas algumas coisa eu não perdi nunca.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Bairro do Brás



Poderia ser Bedford, ou algum pico do Bronx, onde eu ainda vou dar um rolê... mas é o BB, o Bairro do Brás, onde eu já dei meus rolês. 
Esse cenário de destruição de pós guerra, pós tsunami... a atração pela queda: thanatos é um deus muito forte.

Bairro é Brás, Pari, Bom Retiro, aliás o maior de todos é o Bonra, quer ver São Paulo, é o Bom Retiro.

Mas o Brás é muito louco, tipo: morreu, acabou destruído, uma puta velha, muito louco dar um rolê no Brás, se encontrar três italianos e um espanhol é a mega-sena.





a vida não cabe no bolso # 298



um grito, é o meu suspiro

hang on



hang on
não há mais ninguém aqui
hang on
mantenha-se fora da linha
hang on
ousadia e paixão,onda cristalina
hang on
você nunca mais está sozinha
hang on
que bom que você está parada na minha
hang on
tão linda, nem imagina
hang on
eterna ferida
hang on
estamos quase lá, na Indochina
hang on
quando menos se espera, pumba, o dia termina
hang on
ainda ontem eu te escrevia
hang on
deixe de mistério, você não adivinha
hang on
tudo por quase nada, um fio, uma linha
hang on
quando eu menos queria eu tinha
hang on
segure em minha mão
hang on
confie uma vez na vida
hang on
tudo por um triz na tua vida
hang on
as coisas estão por aí
hang on
eu e você, a tardinha
hang on
como está fica
hang on
não perturbes o major tom
hang on
estrela matutina
hang on
lance o coração
hang on
de novo, juntos

você não



se você nunca disse:
- te amo.
você nunca falou e disse.
se você nunca disse :
- te amo.
você não sabe.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um bilhete para Estocolmo




Um corpo de mulher jogado na praça de alimentação do hipermercado. A mulher está morta, foi degolada. O corpo está coberto por jornais. Uma poça de sangue não para de crescer.
Sabe-se que a mulher foi degolada pelo marido.
O marido não admitia que ela trabalhasse.
A mulher tinha 23 anos. Após sete anos de convivência, "o filho já podia frequentar uma escolinha", ela resolveu trabalhar.
O marido foi ao hipermercado, esperou ela ir almoçar, e na praça de alimentação tirou um facão de uma bolsa e a degolou.
Uma fita amarela e preta, sustentada por quatro torres de um metro e meio de altura, separa  o corpo, degolado - a poça de sangue aumentando - jogado no chão e coberto por jornais,  dos frequentadores do supermercado, que fazem algum tipo de refeição ali.
A fita separa o corpo alguns poucos metros, três ou quatro metros, das pessoas que estão comendo.
Estudos comprovam a conveniência de, em ambientes de compras como shoppings, hipermercados, malls,etc.  existirem lugares onde se possam fazer refeições. Segundo a revista Seleções desse mês  ( achei a revista no lixo) pesquisa recente " provou que a freguesia gasta quase 20% mais num lugar de compras  se contar com uma boa praça de alimentação".
A comida é podre, a carne é podre, o café nunca é bem tirado, tudo é pré-cozido e plastificado. Sub-sub-sub comida.Vende-se de tudo ali: tapiocas, coxinhas, água de coco, manjares, sorvetes, bombons, pães de queijo,e muitas outras guloseimas. O cheiro de bacon e óleo empesteia o lugar, mas poucos sentem qualquer coisa.
As pessoas comem de boca aberta e não param de falar. Nunca, jamais, de modo algum, elas ficam quietas. Algumas falam mesmo sozinhas, não com elas mesmas, mas com algum perseguidor imaginário. A maioria fala ao celular. O Celular é uma acessório muito usado pelos patrícios, deve haver um sem número de pesquisas, qualis e quantis, sobre isso, o tempo que as pessoas ficam falando ao  celular e o tipo de conversa que elas tem. Na Seleções desse mês, que achei no lixo, não havia nenhuma matéria sobre isso, o que as pessoas conversam ao celular, no entanto tráz matérias sobre "nosso corpo incrível", "12 ideias  que deram certo" e outras que eu não recordo.
O Som alto continua anunciando ofertas: biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, etc. O mesmo disco, o da novela, roda o dia inteiro.
Enquanto o corpo da mulher morta e degolada está jogado no chão do hipermercado as pessoas, entre uma compra e outra, aproveitam para comer alguma coisa e colocar o papo em dia. 
A poça de sangue não para de crescer.

domingo, 20 de outubro de 2013

Maradona, aniversariante do dia




O São Paulo foi jogar contra o Sevilha, quer dizer, o time que Deus jogava. Não consegui chegar ao estádio, um congestionamento dos diabos. Ouvi o jogo no rádio.
Colocam Rivelino para falar com Diego.
Diego diz:

- Maestro! 
Maradona diversas vezes falou que o Riva era o ídolo. Rivelino e Maradona< porque eu adoro o lado esquerdo da vida, o lado errado.

eu corro


eu corro
de mim
eu corro

socorro

sábado, 19 de outubro de 2013

o encontro do carro a 150 quilômetros e a família de bolivianos




Uma família de bolivianos segue de mãos dadas pela avenida em São Paulo.
Embora não seja um costume na Bolívia, aqui a família segue andando de mãos dadas. 
Um bom costume brasileiro, entre tantos costumes que a família boliviana adquiriu em 7 anos vivendo aqui. Papai boliviano, mamãe boliviana e o menino Johnny seguem de mãos dadas, quase sorrindo. 
Previdente o pai segue no contra fluxo.
Com uma mão segura forte a mão do menino, com a outra a mão da mulher. Na Bolívia, na região de onde vieram, não poderia andar de mãos dadas com a mulher: essa deveria andar atrás dele. Gosta do Brasil, acha legal as coisas aqui, legal poder andar de mãos dadas com a mulher.
O sol bate forte, ontem choveu e amanhã sabe-se lá o que vai acontecer.
A 150 quilômetros no carro esporte, após uma noite intensa de balada, volta para casa no Morumbi o jovem Pedrinho, que tem o mesmo nome do avô, e seguirá a mesma profissão desse: advogado.
Embora não escreva corretamente, assim diz o vovô, logo terá uma boa redação, o sangue e a prática, a técnica e o espírito, são coisas que vem do berço, dizem por aí.
Muito seguro, o Pedrinho. Extremamente confiante. Lutador de Aikido. Jogador de Polo, inclusive surfista.
Vangloria-se de poder ficar dias seguidos acordado ( o recorde é de 93 horas! mas fazia frio e ele estava numa estação de esqui...) Volta correndo para casa, pois é domingo e a visita mensal do vovô. O bate-papo na varanda, os aperitivos, as recomendações sobre os negócios, são coisas que Pedrinho não quer perder. Vai tomar um belo banho, recompor-se completamente e apresentar-se de forma mais que conveniente ao vovô.
Os bolivianos vão a feira, dos bolivianos, por supuesto, ou seja lá a forma como os bolivianos digam: vamos a feira é claro, hoje é domingo. 
O jovem advogado volta para casa a 150 quilômetros, o carro pode muito, pode mais, e devemos dar as coisas, e as pessoas, aquilo que elas podem dar, é uma lógica muito corrente e bastante prática, assim diz o bom senso.
A família para por um instante. A cidade é feia, muito feia, mas agora o papai boliviano enxerga algo bonito. No carro Pedrinho, que tantas coisas bonitas já viu na vida, olha para o lado e também enxerga algo bonito.
O carro a 150 quilômetros, o jovem voltando semi bêbado da balada, a família andando na avenida, o Sol forte.
Ronco do motor e vento forte, tipo 150 quilômetros por hora. Balançar de roupas,nenhum tremor do carro. Sorriso dos bolivianos, sorriso de Pedrinho ao volante.
Tudo acabou bem, porque eu não gosto de finais tristes.