domingo, 31 de julho de 2016

encontrei o louquinho da 13


fui comprar pão, de pijama. ok, um pijama da Qatar Airways, mas um pijama. 
Queria comprar pão de forma, fazer torradas, do jeito que a Adri gosta, mas o JJ, que é na calçada de casa, não tinha. Desci mais uma quadra até o Japonês, que perde pro JJ por não me chamar pelo nome e não brincar comigo, apesar de ter os preços mais em conta. De saída encontro o senhor Evandro que pergunta qualquer coisa ao JJ, que responde com um impropério; Evandro diz que JJ é parente de seu Lunga, que alias, ele adverte, é meu conhecido. JJ comenta: esse Mauricio é uma capacidade! 
Saio dali que nem um passarinho.
Subindo a ladeira vem o Louquinho, falando sozinho e sorrindo. Ele mora na 13, sobe e desce, sobe e desce; ás vezes fala coisas da janela, pra ninguém e pra todo mundo. Nunca vi ele falando com ninguém, ser cumprimentado ou abraçado; algum filhadaputa pode até duvidar que ele seja da Bela Vista. Calça meias com chinelo de dedo, a mesma combinação elegante que ora eu usava. Falava as coisas dele abraçado ao jornal Agora; pensei comigo:
- ô jornal fuleiro! cheio de (obviamente) fuleiragem!
Compro o pão, compro queijo; a mulher do japonês é mais uma vez atenciosa.
Agora é subir a quadra. No chão encontro o suplemento do jornal, caído, limpinho, esperando por mim. Intuo que o louquinho deixou cair, perdeu.
Fuleiragem deliciosa contém a revistinha: uma matéria sobre "porque cada vez mais pessoas gostam de gatos", três anúncios, de página inteira, de aparelhos de surdez (!); palavras cruzadas quase fáceis de fazer,o quadro " o que rola de graça na city", e a magnifica seção "corações solitários", onde elemento em situação de privação de liberdade, entre evangélicos, enfermeiras, e idosos, procuram
pessoas simples que saibam amar de verdade, e não estejam atrás de aventuras.
Acabo de ler o jornalzinho. Penso em subir a 13, bater na casa do Louquinho e devolver o suplemento.
Desisto da aventura. Devolver com as palavras cruzadas feitas?
Queria abraçar o louquinho, entre muitas outras coisas mais. Penso em gritar da janela qualquer coisa pra todo o mundo, desisto.
Lá de longe um espelho reflete o sol, e um pouco de brilho quase chega em mim.

#doisvelhosamigos

- éramos bobinhos?
- sabe que não.você, o mais safado.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

em tuas



mas tu não entendes
somente no longe de tuas mãos
fica meu amor
ainda mais agora
que tudo já era
noite longa para caminhar
enquanto a espera
me faz lacrimejar
seu sorriso
só me resta
um mundo inteiro de dúvidas
metade de tudo que resta
enquanto desespero
tu sem entender
uma palavra
voo

encontra seu destino
pouso impreciso
ponto indefinido
rumo ao infinito
plano desconhecido
voar é desafio


em você
meu coração 
desaflito

quinta-feira, 28 de julho de 2016

GUILERME.



assim desse jeito: Guilerme, sem H. assim as pessoas falavam.

- GUILERME

Falavam descendo a escada rolante:

- GUILERME.

e o pessoal que subia a escada rolante  do outro lado respondia:

- GUILERME.

Não haviam combinado nada. Eram pessoas que não se conheciam, mas porque era muito positivo, e contagiante, um tapa na cara da rotina, da mesmice e da caretice, sem nada combinar, umas gritavam às outras de uma escada rolante em direção á outra, durante uma tarde inteira:

- GUILERME.

as pessoas falavam umas ás outras porque a escada rolante era gigante, lá de cima se ouvia, cá de baixo se respondia e a brincadeira era contagiante:

- GUILERME.

porque a cidade tem um monte de pessoas legais, que imediatamente conectam-se em movimento anti-mesmice, destrói-rotina, espanta-caretice. elas se falavam:

- GUILERME.

eram meninas dos seus vinte anos,e mamães com seus bebes de colo e tiozinhos variados e caboclos de dreades e colegiais do Dante e funcionários da Caixa e ex-cadeieiros que trabalham como peões e pessoas que nunca voltam pra casa sem um pacote e atrizes pornôs com o corpo fechado malandros que são chamados de japoneses por que o avô veio do japão e  gordonas nem aí pro fato e muitos casais de lésbicas dulcíssimas e malucos mil das quebradas e famílias inteiras do ceará a passeio, umas diziam ás outras sorrindo:

 - GUILERME.

 eu eu chamei também:

 - GUILERME.

e reponderam-me:

 -GUILERME.

isso aqui acontece porque essa é uma cidade misteriosa, cheia de gente louca pra ser feliz:

-GUILERME.

eu eu adoro o movimento anti-mesmice, destrói-rotina, espanta-caretice.

-GUILERME.

e eu sou absolutamente louco pra ser feliz

-GUILERME.

terça-feira, 26 de julho de 2016

luta de classes


ódio mais antigo 
desde o principio
amanhã continua aqui

‪#‎doisvelhosamigos‬


- eu me sinto a parte de tudo isso...
- você É PARTE de tudo isso.

disco riscado



um disco riscado, é esse país
o suicídio coletivo
o massacre da flor
a obliteração do sol
a começão de vidro
o pelourinho
a passionalidade egóica

tudo me arrasa. só tu me abraça.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

o preço do quilo



após ás 15 h os preços do quilo diminuem em um real a cada cem gramas; soubemos pela placa, onde assim estava escrito:
APÓS ÁS 15 H QUILO À R$ 2,27.
estacamos na porta do bistrô e resolvemos esperar uma hora e meia pra almoçar.
hora e meia andando só serve pra aumentar a fome, é o que dizem, então sentamos na escadaria da Sé, e, só pra distrair, ajudamos o rapaz que vendia cervejas, comprando algumas latinhas dele.
uma dúzia de cervejas fazem a nossa cabeça, é o que pensamos, e foi o que bebemos.
a tarde passou muito depressa, chegou quase a noitinha e uma roda de fogo - o povo do corote - começou a colar, foi demais pro nosso estômago, neste ano de 2016.
- Após ás 18 horas quanto será que o preço do quilo fica custando?

#doisvelhosamigos

- você lembra quando bacalhau era o prato do dia?
- ...
- fígado á veneziana, picadinho de ponta de faca, dobradinha, rãs á dorê, rabada com agrião,miolo á milanesa, bife de vazio, garrão!!!!!!!!! ô coisa boa que não volta mais!
- você pensa que eu tenho quantos anos?! setenta? eu tô velho, mas só tenho 51!



é o que eu sempre digo
só me leve a sério
quando eu estiver sorrindo

sem fim


dente de leão
asa de borboleta
bolha de sabão

devagar divagar
nuvem de algodão

primeiro gole de cerveja
conversa de irmão

fim de dieta
chacoalhar a mão

passeio de bicicleta
caba não mundão


ei bolha de sabão
dure enquanto dura
minha força de dizer não

de brisa em brisa
acabei vendaval

quinta-feira, 21 de julho de 2016

face


não é, ah como é fácil...
nem como é que eu faço
mas ás vezes eu tudo desembaraço

vida sem fim



ah vida sem fim
eu não preciso de nenhum motivo nobre
para ficar pra sempre aqui


acender uma brasa
antes de menos nada

trevo de 4 folhas


achei um trevo de 4 folhas.
é uma sorte encontrá-lo; para cada trevo de 4 folhas existem 10 mil trevos.
li em algum lugar sobre algo a ver com a simetria da natureza; fibonacci, números, repetição de números,o porquê existem trevos de 3 folhas e não de quatro, mas frequentemente não lembro o que li, ou onde li, por isso não lembro onde li sobre o trevo de 4 folhas, mas isso não é desonra. 
de novo o trevo: eu o escondi; aguardo a oportunidade melhor para mostrá-lo, quero apresentá-lo a alguém que julgue uma sorte eu ter encontrado o trevo de 4 folhas (no momento não tenho ninguém para mostrar o quanto eu tive sorte de achá-lo)enquanto eu possui-lo, acredito, guardarei um trunfo, 
tenho medo de esquecer onde escondi o trevo de 4 folhas, ás vezes escondo algumas coisas tão bem escondidas que depois não as acho mais.

dizem que a sorte fica escondida, li em algum lugar, mas não sei direito onde.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

americanalização


de fato antes... tudo no bananão era melhor... 
havia joie de vivre e savoir faire...
depois vieram os americanos com essa pataquada de time is money, e outras querelas do tipo: fazer networking, happy hours, toda uma merda ligada ao mundo do trabalho e ao consumo: shopping, e etc.
sei que isso não tem volta, mas eu vivo muito do passado

ah eu não tenho saudade... é nostalgia o que eu sinto


o que define minha trajetória é o fato de eu ser estrangeiro em qualquer lugar

#encontrocomfamosos regiani ritter



A tv Tupi era minha janela para o mundo.
Era a televisão de São Paulo. As pessoas na década de 70 corriam para ela em busca de trabalho, da oportunidade de ser artista, de brilhar.
A Regiane Ritter era uma das pessoas que estavam ali lutando. Ela aparecia em programa humorísticos, estava sempre buscando uma chance. Eu era criança, mas jé percebia que ela era uma guerreira.
Hoje tive a chance de falar isso pra ela. 
Na despedida ela falou:
- Bom te ver!

quarta-feira, 6 de julho de 2016


vamos fazer nada juntos?

#encontrocomfamosos josé maria de aquino


estava na fila do supermercado no brooklin.
era uma distração na hora do almoço. odiava meu trabalho, as pessoas davam um valor estúpido  e superior ao que ele era na verdade - uma ilha da fantasia - distante do chão da fábrica, inventando ações que evidentemente jamais aconteceriam, e umas queriam comer as vísceras das outras, uma sala em guerra com a outra sala, uma mesa em guerra com a outra mesa, o dia se arrastando;
enfim a hora do almoço, ficar sozinho, andar á toa por uma hora, respirar.
na fila do supermercado encontro o josé maria de aquino, um gentleman, preciso nas informações, muito longe da figura estereotipada, palhaça, torcedora, dos outros jornalistas esportivos. 
a revista placar tem uma importância nunca devidamente declarada, esclarecida na minha vida. mitologia, fabulário, bíblica.
meu pai me dava o dinheiro toda semana para comprá-la.
josé maria de aquino escrevia na revista, eram os perfis, os dramas, a vida do futebol; de uma profundidade!
- senhor josé maria de aquino!
- pois não?!
- sou seu fã desde o tempo da tv tupi, e depois na revista placar... aprendi tanto lendo o senhor!
- tome aqui meu cartão, se precisar de algo...
o diabo é que não sei, não há como, não tem jeito de retribuir tudo o que aprendi quando criança lendo o que ele escreveu.


aquilo que tem preço, não vale o preço que se paga