quarta-feira, 31 de agosto de 2016



na favela soltaram fogos.
não era porque chegava a mercadoria 
era a presidenta que caía

a vida como você quiser




a vida é somente perda
derrota, fracasso, miséria
penúria, liquidação, morte.
estou, todavia, apegado
a ideia de vida como luta, 
vontade, experiência, busca,
transformação.
cada um que tenha a vida como quiser

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

central de relacionamento

atendo o telefone:
- eu sou a shelmi da central de relacionamento do santander, posso falar com o senhor mauricio?
- não,
- como?
- ele está impossibilitado.
- quem é que está falando?
- é jórrrrrrge.
- e o senhor é o que dele?
- colega.
- nós temos importante comunicação para passar a ele.
- ...
- o senhor está ouvindo?
- alô? quem está falando?
- é shelmi, da central de relacionamento do santander.
- ah pensei que fosse a cráudia.
- então senhor...precisamos falar com o senhor mauricio.
- sobre o quê? quem está falando?
- é shelmi...
- ah... pensei que fosse a cráudia.
- senhor...
- eu sou jovem.
- o senhor mauricio, como conseguimos falar com ele?
- quem?
- o senhor mauricio, ele tem celular?
- como? quem está falando?
- senhor ...nós vamos estar gerando um código de protocolo, o senhor quer anotar?
- não.
- como?
- estou impossibilitado.
- ok, nós iremos então enviar por e-mail.
- como?
- por email.
- ah... escuta, você está falando de onde, é de araçatuba?
- não é de prudente.
- ah,já estive aí, tranca dura...
- sei.
- ás vezes me bate uma saudade!
adoro ficar livre após ás 16h20

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

sinal verde


enquanto o sinal não fica verde
eu sigo cantando
teu nome
teu cotovelo
e cada linha preta da tua vida
que está escrita em teu cabelo
em teu peito
em qualquer coisa que não se enxerga
e na palma da mão
que vibra.

a tua negativa é que me faz virar
em cada esquina
a procura de um pedaço de ti
um canto da cidade
agulha pra te reconstruir
traço sem par
uma ponte
uma ponta
palmas, paris
de novo aqui

enquanto o sinal não fica verde
a gente fica assim

preconceito de cor eu sinto na pele

brasil,nação rivotril

#doisvelhosamigos


- você tem 80% de ganhar e não vai jogar?!
- até parece que você não me conhece... eu já ganhei alguma porra nessa merda de vida?!


hoje é mais um dia bom entre milhares de outros

hoje é mais um dia ruim entre milhares de outros



como nasce morre
sem interrogação
sem espanto
sem nada
ponto final


a face dos desejos
já passou
olhos fechados


eu deixei o mundo pra trás
e não tenho por que voltar


o outro dá a medida do meu eu
o outro dá o limite da minha liberdade
o outro dá a possibilidade do meu gozo
eu preciso do outro
que é o mesmo
e diferente da gente
tamos fudidos

espera aí vou furtar alguns poemas e já volto

domingo, 21 de agosto de 2016


Estranhas entranhas
o pensamento pensa mesmo
diferente de mim

volto para mim 
mas já sou outro
ainda agora era o mesmo
mas ontem faz tanto tempo
onde estarei nessa madrugada?



trancei a vida
um punhado de pó
a sonhar estrelas

esqueci



de manhã não conseguia lembrar o nome.
vinha o gesto de servir o chá, voltar a cozinha. um por do sol, bem-te-vi.  qualquer coisa sobre não aceitar certa passagem de um livro, edipiano. outra vez uma ruga, sempre vinha. uma mecha distraída de cabelo, o tilintar de copos, tamborilar de dedos. algumas palavras; decerto, inquietude, novamente. jogo de xadrez. um olhar. palavras que eu não ouvi,mas consegui entender. desencontro no metrô.fazer xixi na rua. discutir sobre as cruzadas, apresentar-me como o "infante". praias lotadas sem lugar para mais alguém. desencontro por cinco minutos. vestido de organdi. brilho das estrelas sem nome. poeira em todos os espelhos da casa. nenhum adeus.
á tarde um passarinho junto ao meio fio mantinha-se em dúvida se beberia a água que corria pela sarjeta, os livros acumulavam-se em desordem, garrafas faziam ás vezes de vasos com flores semi-mortas, que insistiam em permanecer ali; parecia-me que eu deveria lembrar de algo, um nome? alguém?
de noite eu não lembrava mais de nada, esqueci.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016



um rato bem grande fica me olhando de dentro do ralo da pia, acho que ele pensa que eu sou algum idiota

a vida é um trem descarilhando


eu sei que a vida é um trem descarilhando, mas enquanto isso eu curto a paisagem

a felicidade dos outros



sou acordado ás 3 da madrugada por gritos:

- VIVA A VIDA! gritam da laje  do prédio vizinho.

- VÁ SE FODER! responde meu vizinho.

A felicidade parece ser algo maravilhoso, realmente algo extraordinário.
Não existe porém consenso quando se fala em felicidade. Parece-me existir vários grupos com pensamentos antagônicos e excludentes com relação a ela. Diz-se a que a felicidade é um caminho, não é um objetivo; para esses a felicidade faz-se, fazendo, trilhando, construindo, andando, agindo, costurando, criando, vivendo.
Opondo-se a esses um grande grupo diz:

-Não existe felicidade. o que existe são momentos felizes.

Frase chão, chavão,feia, que me soa horrível; assim como a palavra "soa", também me soa horrível.
Existem também aqueles para quem felicidade não existe; trata-se de uma miríade, uma meta de tolos, um estelionato, auto-engano, um engana-trouxa, um engasga-gato,enrola-pascácio, ouro de tolo, limpa de lorpa, leite de pato.
Provavelmente surpreso com a resposta do meu vizinho, o rapaz grita mais uma vez:

- PORRA EU SOU FELIZ!

Eu abro minha janela olho pra ele e mando:

- VÁ TOMAR NO CU, OTÁRIO!



quinta-feira, 18 de agosto de 2016


muita inexistência numa vida só



o mundo precisa de mais pessoas amáveis...
tá cheio de gente odiosa por aí

‪#‎encontroscomfamosos‬ alberto marsicano


minhas estórias com o marsicano são só de longe. eu dentro de um ônibus elétrico descendo a augusta, e ele subindo em outro ônibus elétrico; eu saindo e entrando do wc de um lugar fétido, esperando ele sair e entrar, cumprindo a missão de manter-me sóbrio nesse mundo de loucos; na rua aurora, de manhãzinha ele com o rosto sangrando,um talho na testa, empapado de sangue,com dois litros de leite nas mãos; ele falando em outras línguas na mesa ao lado, restaurante thai, coisas que eu não entendia, para garota que estava com ele, ela de dentes separados, sapeca,serena, translúcida, sardas, cabelo joãozinho, que respondia ainda em língua diversa a que o genial marsicano falava a ela, ela falava olhando pra mim, de forma que eu escutasse:
- timpul este cu totul.
ou será que era:
- დრო არის ყველა
ou ainda:
-čas se je iztekel z vsemi?
eu desatento, pensamento acolá, míope, um troço vestido, mulambo, sedento, faltando um pedaço, reserva num timinho, traduzo:
- O tempo vai acabar com tudo.
Ah! (respondi telepaticamente, torcendo) disso entendo muito bem.


lá como cá
divagar

terça-feira, 9 de agosto de 2016



mulher é melhor que homem

não lembro de nada, mas foi bom

aquele que enxerga o mundo aqui, na cabeça do alfinete, enxerga mais que o outro que sai a vislumbrar estrelas?

sweet jane




minhas práticas
nada tem de práticas
são as noites mal dormidas
meu bem
disse-me uma amiga
o que eu posso
se quando escurece
relâmpagos me abraçam
só esse sorrisinho besta
de quem não faz porque não quer
não me adiantam mais
só alguns cruzados
minha roupa nada diz
acho que eu vou
de novo outra vez
mentir

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

#doisvelhosamigos


- você inventa tudo isso, né?
- claro, a vida é para ser inventada.

minha infância foi maravilhosa:a inventei inteira

‪#‎doisvelhosamigos‬


- gosto do que você escreve.
- é uma surpresa, você nunca curtiu nada.
- ah, curtir é outra coisa!


chega de chega; vamo que vamo!

Iracema, uma transa amazônica


esse filme é uma merda. ele não tem apuração técnica. ok, é a proposta, mas é muito vulgar.
a atriz não é atriz, o que vem a ser um achado, um chiado e um ruído.
eu atento para os 5 minutos finais. ela calça somente um pé de botas, vai ficar na poeira da estrada sem  os cinco contos que queria, fumando uma droga de cigarro, esperando a próxima carona. 
o herói é o Pereio, meu vizinho; mais um que eu não cumprimento, deixo-o em paz. o anti herói Pereio.
Iracema, pardinha, não cabe no caminhão de gado, nem isso, mas sorri.
o bananão é uma lixeira, um liquidificador de almas, uma encheção de linguiça, uma história de merda, contada por um metido a besta, e sem plateia.
todos somos indiferentes á tudo, espectadores inertes esperando a próxima carona.


sem controlo da razão

um pequeno ser humano neste lugar tão grande



na falta

de melhor palavra
o grito
na flauta, quebrada
noite inteira
espera sonhada
de manhãzinha
suadeira condenada
fora de linha
vazios pulando
fora da pauta
de vez improviso
tocando sozinho
sem platéia
meu umbigo

quem fez isso comigo

foi euzinho