terça-feira, 25 de dezembro de 2018

cachorro babucho



onde eu compus um blues?
ontem em cima do ouro 
mas era outro, a se lamentar 
o céu e seus azuis


ontem eu compus o blues 
onde estará o ouro?
pra que se lamentar, era outro
céu entre azuis


outro compôs o blues
o ouro era de outro
de ontem, nada a lamentar
somente o céu antes dos azuis

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

catedrais



as minhas futuras mentiras
eu já estou acreditando nelas
bolhas de sabão, estradas que levam a nada
e a elas eu dedico o caminho
dos teus cabelos que desembaraço
enquanto me distraio, me acho

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

sábado, 24 de novembro de 2018

ana maria, presente



Faleceu hoje Ana Maria. ainda hoje falei dela
O mundo fica mais pobre. ela era muito inteligente e culta. A pessoa muito loka por excelência!
Se quando eu morrer não encontrar com ela não estarei no céu.
Bairro de são João Clímaco, geral. Guardarei pra vida.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Só de pensar que não vou conseguir ler todos esses livros já me nasceu um furúnculo

abismo te espero com a pica dura e o coração em pedaços

horizonte



nuvens cor de ameixa(como li agora no livro) horizonte fechado, um céu pétreo de chumbo. impossível enxergar mais a frente...
nada disso; o céu abriu, vejo nuvens de fogo, o vento varrendo e levando tudo - mistério há de pintar por aí, como canta a canção - arte no horizonte do provável.
me engano e gosto

acho que a poesia sempre esteve a frente de tudo

hora crucial


em qualquer canto da cidade o meu peito se alumia de fogo vento e de outras velocidades
esparramo os versos em cantigas que as crianças ouviram de outra vez em outras ninhadas, aprendi com elas em outras jornadas
a mulher amada meu punhal sorri pois a sabe com os dentes a mostra pronta sempre para os beijos os afagos e disposta a luta sempre e antes todavia de mim e a seu reboque eu vou no galope da madrugada
enquanto as bestas se divertem e já inventam suas mais torpes desculpas eu vou de pique a pique ainda romântico um tanto blasé com meus chinelos de dedo meu pé descalço minhas botas sem cadarço, meu andar trôpego enviesado eu vou de todo o jeito em busca das praias selvagens que foram feitas somente para nosotros
nada mais há que me acabrunhe mais que a vileza dos meus semelhantes de todo de mim distantes
meu choro escondido aprendi na produção de uma vida inventada, mas muito longe da farsa, uma tragédia de poucas cores com uma pitada aqui e ali de pimenta e outras bombas
as hordas farisaicas empresto meu solidário escárnio meu sarcasmo e a certeza do vento, de novo, ao nosso lado

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

gil gomes, excepcional artista


em 1989 trabalhei como rádio escuta na secretaria de transportes.
entre um jornal e outro da bandeirantes, ouvia o gil gomes. ouvi todo dia por um ano.
o Paulão, Paulo Rodolfo, meu amigo e colega, lembrou do silêncio do Gil Gomes - as pausas.
além das pausas ele tinha o ritmo. Aquilo - o caso, invariavelmente banal, ia crescendo, uma corda tensionando:
- Matou . Ele MATOU O MENINO. O menino Morreu. Jairzinho foi morto pelo vizinho! O VIZINHO MATOU O MENINO.
Eu trabalhava na rua Bela Cintra, numa cabine. Entrava ás sete, acordava ás seis...saía da faculdade ás onze chegava em casa depois da meia noite dormia á uma, INVARIAVELMENTE cochilava na cabine. Acordava com a chefe, de boa, me dando bronca, ou, melhor, com o Gil Gomes :
- Tenente Ranulfo, da policia militar...
Este ano de 1989 é um ano que não tenho registro na carteira, trabalhei como estagiário e não paguei inss, e está me fazendo uma falta danada; nunca aguentei trabalhar... faltava uma vez na semana nesse trampo. Paulão aguentava firme! Nunca faltou. Ele sempre aproveitava essas minha brechas e me chamava de cuzão...
A minha estória inesquecível do Gil Gomes, eu não lembro direito; era sobre um menino que sumiu na enxurrada, durante uma tempestade. dessa linha ele contou uma estória de 30 minutos.
e lembre-se: agindo com dignidade e justiça você pode não mudar o mundo , mas haverá na terra um canalha a menos
com a sonoplastia de roberto felix, Gil Gomes lhes diz: Bom Dia!

#doisvelhosamigos

- e aí, o que vai acontecer depois de dois de janeiro?
- a gente vai dar um geito.
- jeito é com j.
- eu to sempre me enganando

pelo espirito que navegas

enrolado nesse novelo
estamos amarrados numa história
sem mocinho nem bandido

resultado da eleição


costela quebrada é problema. não tem como engessar; não tem posição: de repente aquela dor aguda. Me quebraram três.
E afundamento do malar, e perdi três dentes, da frente.
Sei lá por que me pegaram. As pessoas eram pegas pelas milicias por qualquer algo: camisas vermelhas eram um alvo fácil; quem parecesse viado levava porrada, se estivesse andando de mão dada era morte na certa.
Fui pego, talvez, pelo livro que carregava?
Pela minha cueca vermelha?
Por parecer viado?
Por ter falado numa aula em 2008: "- Mais forte são os poderes do povo" ?
Por descer pro samba?
Por ter assinado aquela petição?
Veio me visitar no hospital. Se assustou com minha cara arrebentada, meus braços cheio de hematomas.
- Meu DEUS, o que fizeram com você?!!!!!
- Foi VOCÊ que fez isso comigo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

a magia do cinema, nasce uma estrela

muita torcida por esse filme (torcida pra ser um filme bom) e eu AMEI.
acho que para as pessoas que se amam o mundo se resume a elas, o mundo ao redor deixa um pouco de existir. o filme é isso.
nem vou falar da beleza extraordinária dos dois. das maravilhosas canções. da excelente atuação deles. da pequena notável LADY GAGA. do quanto eu chorei, do quanto a Dri chorou,
eu só quero falar da magia do cinema e que eu assisti o filme e o mundo de fora parou de existir.

domingo, 14 de outubro de 2018


esses pedaços de versos
embaralhados nos ladrilhos
escritos com sangue e outros fluidos
na parede da escola, do presidio, do hospício
me distraem e me afastam de mim
e me trazem de volta
e eu gosto disso, sim

te amo
o resto são acidentes de percurso

assobio essa canção, 
onde é possível buscar-se a si
e a mim

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

nunca serei derrotado


nunca serei derrotado, belchior está ao meu lado. o lado esquerdo, do coração

não chego a ser sujeito


eu não chego a ser sujeito...
eu estou sujeito a um sem número de golpes e fantasias que ora me inebriam ora me ferem ora me despertam ora ora ora

quando uma pessoa dissesse:
- Trovão!
epidérmica reverência deveria ser realizada.
E assim com qualquer outra palavra, ligada a fato ou fenômeno.
- Eu vou.
- Amigo.
- Dri.
- Primavera.
Mas o sistema de palavras está vazio.
Tu escutas meu grito quando imploro?
- Paz

acho que ter passado mais de três mil noites subindo e descendo a treze de maio valeram de alguma coisa: eu passei três mil noites subindo e descendo a treze de maio


meu débito com a racionalidade só aumenta

enquanto minha mão procura a tua
mas eu deixei o inverno em qualquer lugar longe daqui

quinta-feira, 27 de setembro de 2018


oh Deus! livrai-nos dos inocentes

furte-me também

tijela é com g; que descoberta maravilhosa!

desadaptação é meu diagnóstico; o resto é jogo de cena

como da última vez foi a primeira vez

o que esperar de um país que a vela de sete dias não dura nem cinco?
como tudo aquilo que não há
não me sacio nunca
se você não sabe quantos vaga-lumes eu tenho guardado

pelo menos o voto em papel servia para limpar a bunda

mãe que bom que tive você

eu te amo eu te odeio
rápido demais
mas te esquecer jamais


vou-me ás multidões

no final vai dar tudo certo porque é assim que eu quero

estou a um passo do próximo passo

fui a óbito mais uma vez

domingo, 2 de setembro de 2018

escrevo isso



escrevo isso com os ossos
com sangue e fluidos
tudo é terrível
a menos que estejas sorrindo
mas enquanto isso
vale cada gota de suor
cada subida á montanha
cada fracasso tentativa e erro
cada canto desesperado e assobio de velhas canções que nos fazem acreditar que mais que tudo
é preciso e necessário
essa lágrima
esse frio no estômago
essa multidão de nãos
para que, 
você sabe,
nós dois sorrindo

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

um cigarro




- Me arruma um cigarro?



Passa as tardes encostado na soleira do boteco vagabundo. Ainda é o Gordinho, daqui a alguns anos sabemos o que será. 



- Um cigarro?



Transpira muito, principalmente na cabeça, Já é calvo, mas, claro, claríssimo, não admite. Tem a tez morena,      "abaçanado", dizem: "azeitonado". Tufos de cabelo, tufos de barba.



- Te peço um cigarro.

Idade indefinida, podia ter 30, 23, 28. Tem 17; nem se apresentou ao quartel.


- Cavalheiro, posso fumar?



Veste-se de forma ordinária, camisas amassadas de segunda mão; aceita o que a mãe lhe dá, reclamando: ora pro nobis.



- Por gentileza, um cigarro!



Trabalhou a algum tempo, por pouco tempo, Dizem: "não esquentou a cadeira", era contínuo, office-boy, o leva  recados, auxiliar disso e daquilo; comprava flores, trazia o jornal, levava a encomenda, depositava o cheque, pedia um taxi, tirava cópias, pegava o ônibus, jogava fliperama, sentava na praça, esquecia a hora, fumava um cigarro.



- Me arruma um careta?



Fumante inveterado, tipo 70 cigarros num dia. Fuma, aliás, o que pintar: cigarrilha, cachimbo, charuto, baseado, cigarro de palha.



- Um cigarrinho compadre...



Encostado à pilar do bar fedorento, passa as tardes fumando. Fala de tudo e de qualquer coisa, sempre com ênfase, violência e propriedade; por vezes vai ás vias de fato; tem opinião e faz questão de expô-la.



- One cigarrete, please!



Os dedos amarelados, aquele cheiro de cortiça. Na roupa, no sapato, na meia e na cueca.



- Vamos fazer uma fumacinha?



Faz gracejos as moças que passam. "boneca" "lindeza" "gatinha" "princesa" "rainha". Não come ninguém faz tempo.



- Tô louco por um cigarro!


Trancou o supletivo, perdeu umas amizades, sabe como é, mas as matérias estavam cada vez mais puxadas.


- Um crivo!

Diz que passou na peneira dos três grandes de Minas; pra acertar um passe precisa de uma benção do Papa...


- Um cigarro!


Não lhe passa na cabeça por um segundo, um fiapo de dúvida, de meditação, do-que-vai-acontecer, de-como-será, de quando-será, de-onde-será, de-com-quem-será.


- Você teria um cigarro?

- Você é um folgado! Rapaz eu tô te sacando faz tempo!! Você passa os dias aqui pedindo cigarro pra todo mundo que passa!!! Vá procurar sua turma!!!! Vá arrumar algo que preste!!!!! 

- Olha aqui, vai te fuder e me arruma um cigarro!